Depois do esforço extra do dia anterior os 55 km que nos separavam de Santiago tinham um significado diferente, quase como se fosse o primeiro dia a pedalar. Já não havia dúvidas que íamos conseguir terminar o caminho e cumprindo as datas a que nos tínhamos proposto.
O albergue foi esvaziando e depois de feitas as compras para o pequeno-almoço, na padaria/minimercado que se encontra em frente ao albergue, apenas sobrava o nosso grupo e 2 companheiros de bicicleta que viemos a perceber serem portugueses, também a fazer o caminho Primitivo, e que tinham seguido à nossa frente nos últimos 3 dias. Depois de trocar algumas impressões e de tomar um café para animar e aquecer iniciamos finalmente a etapa.
Um pouco de estrada, até sair da zona mais urbana de Melide, mal deu para aquecer e estávamos de volta ao caminho, passando pela igreja de Santa Maria.
Sendo Melide o ponto de encontro entre o caminho Francês e o Primitivo já estávamos a contar com o aumento do número de peregrinos. Mas uma coisa é partilhar o espaço do albergue e outra, completamente diferente, é partilhar o caminho em si, principalmente depois de 5 dias com o percurso praticamente por nossa conta.
Até chegarmos a Santiago passamos por algumas dezenas de pessoas a pé, das mais variadas nacionalidades. Não estando equipados com qualquer tipo de campainha ou algo que assinalasse a nossa presença passamos muito do percurso a inventar formas de chamar a atenção a quem seguia a pé à nossa frente, falando e rindo alto, por exemplo, muitas das vezes coisas sem nexo, apenas para fazer barulho. Mesmo assim ficam na memória a reacção de algumas das pessoas com quem nos cruzamos, como 2 senhoras que se abraçaram no meio do caminho em perfeito terror, ou algumas que corriam aos ziguezagues com as mãos a proteger a cabeça, ou o senhor italiano que gritou “vem ai mais 2!” para avisar o grupo em que seguia da nossa presença.
Nessa altura o nosso grupo já se tinha separado, o Daniel e o João, seguiram no ritmo acelerado em que apetecia andar naquele terreno (há uma teoria de que foi a sua passagem que provocou todo o terror nos caminheiros), e o Fernando e o Pedro que foram parando para documentar o passeio, colocar mais uns carimbos nas credenciais e tentando não assustar (ainda mais) as pessoas.
Apesar de haver subidas o caminho parecia plano e os quilómetros faziam-se a bom ritmo, alternando entre alguns estradões, pequenos single-tracks e algumas ligações em asfalto.
Um pormenor que nos saltou à vista foi a vertente mais comercial desta etapa. Como exemplo encontramos poucas fontes mas havia máquinas de venda automática com abundância. Nos cafés que iam aparecendo os peregrinos juntavam-se em grandes grupos.
Percebemos também porque muitas das pessoas apenas caminhavam com uma pequena mochila nas costas ou mesmo sem nada, pois ao longo do percurso cruzámo-nos uma série de vezes com carrinhas que se dedicavam a levar mochilas de campismo de um albergue para o outro, tornando assim a caminhada muito mais confortável.
Em Lavacolla, praticamente no final da etapa, o grupo juntou-se novamente, aproveitando para fazer pela primeira vez nos últimos 6 dias um almoço de faca e garfo, num pequeno café.
A ementa não prometia nada de bom para a saúde, com grande abundância de fritos. Influenciados em parte pelo volume da dona do estabelecimento optamos por um saudável (!) caldo galego e pelas inevitáveis sandes.
Depois de aconchegar o estômago seguimos para os quilómetros finais.
Ao chegar ao Monte do Gozo, paramos para mais um carimbo na credencial. Aproveitamos para visitar um monumento que entre outras coisas comemora a peregrinação do Papa João Paulo II mas que também serve para que muitos peregrinos deixem pequenas lembranças e mensagens.
Depois de aconchegar o estômago seguimos para os quilómetros finais.
Ao chegar ao Monte do Gozo, paramos para mais um carimbo na credencial. Aproveitamos para visitar um monumento que entre outras coisas comemora a peregrinação do Papa João Paulo II mas que também serve para que muitos peregrinos deixem pequenas lembranças e mensagens.
Depois da última descida em terra entramos na área urbana de Santiago de Compostela, deixando de nos preocupar em desviar de peregrinos e passando a preocupar com o transito.
Já no centro histórico percorremos as ruas de pedra, até que 480km depois da partida em Léon, já não havia conchas para seguir… chegávamos ao destino, a Catedral de Santiago.
Quem já fez o caminho, qualquer um, sabe que o que se sente ao entrar naquela praça é especial. E desta vez não foi diferente.
A alegria de atingir a meta não se pode esconder.
Tal como nós, outros peregrinos faziam da praça o local de descanso deixando bicicletas e mochilas pelo chão.
A loucura já tomava conta de alguns…
Depois da foto seguimos para a Oficina do Peregrino para carimbar a credencial pela última vez e levar para casa a Compostela.
Para terminar a peregrinação voltamos à Catedral para uma visita ao seu interior e o túmulo de Santiago.
Já com o sentimento de missão cumprida fomos descansar. Podia ser assim que terminava este relato mas não. Isso tudo porque a organização deste evento épico ainda tinha algumas surpresas reservadas.
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