Depois de uma noite mal dormida o pequeno almoço tinha que ser reforçado para equilibrar a balança mas o albergue não tinha nada que pudesse satisfazer as necessidades nutritivas de um ciclista como tal procuramos uma mercearia onde compramos pão, queijo, fiambre, sumo, água e fruta e fomos até um sitio calmo e sossegado para comer.
Após o pequeno almoço fomos até à Catedral de León para darmos inicio à nossa aventura e tirarmos algumas fotos. Seguimos as conchas e deixamos para trás a zona histórica e urbana da cidade. Percorridos alguns kms de asfalto já fora da cidade entramos numa zona de trilhos com pouca vegetação e solos secos. Foi então que apareceram as primeiras subidas maioritariamente curtas mas com alguma inclinação e os primeiros single-tracks.
Tínhamos previsto que esta seria a etapa rainha da nossa aventura e aos poucos fomos andando e passando por várias vilas e aldeias abastecendo água nas várias fontes que fomos encontrando pelo caminho. Andámos cerca de 30kms por vales sempre na margem esquerda do rio Benesga e seguimos caminhos e estradas de menor dimensão. Ao chegarmos à Estrada Nacional 630 parámos junto a uma fonte para comer algo mais consistente com os mantimentos que tínhamos comprado de manhã.
Até ao momento tínhamos feito a parte mais fácil da etapa. Se até aqui o terreno tinha sido acessível tecnicamente daqui para a frente as coisas iam mudar.
Ao chegar à aldeia de Buiza tínhamos duas hipóteses de seguir o camiño. Uma delas é desaconselhada no inverno (a vermelho) por causa da neve e porque passa em locais de difícil acesso.
Como estava bastante calor e o que nos move é a aventura (e um “pouco” de insanidade) seguimos exactamente por esse trilho.
A partir daqui a pedra começou a ser predominante nos trilhos, quer a subir quer a descer, a média baixou de forma significante e passado algum tempo chegamos novamente a uma outra aldeia chamada Rodiezmo.
Mais uma vez havia alternativa e desta vez até era por estrada, apenas 9kms!
Mas não, nós tínhamos ido fazer o caminho de Santiago e era pelo caminho que íamos continuar e lá seguimos pelo trilho até ao topo da montanha, até que a determinada altura este deixou de ser ciclável! (Até mesmo para quem fosse percorrer a pé era complicado)
Ou seja, durante cerca de 5km os papéis inverteram-se e tivemos que ser nós a transportar a bicicleta pela montanha.
5km podem parecer pouco mas no topo da montanha percorrer esses kms e carregar com a bicicleta é uma experiência única!
O silêncio era quase total, não havia nada a não ser montes de perder de vista, à medida que chegávamos ao fim de um monte começávamos a descobrir o outro.
As placas que indicavam o camiño eram em ferro, altas para puderem ser vistas quando há neve. Podia-se facilmente constatar que aqueles caminhos eram percorridos por muito poucos peregrinos. O que tinha de perigoso tinha na mesma proporção de grandioso e magnífico. A natureza no seu estado mais puro!
Com muito esforço chegámos ao topo da montanha, o caminho para descer era um single track que desaparecia nalgumas zonas.
Lá fomos nós com bastante cuidado até chegarmos a uma zona menos complicada.
Nessa altura o sentimento de alivio era mútuo, a parte pior estava feita! Já era tarde, tínhamos pouco mais de 1h de luz e ainda não sabíamos onde íamos ficar. Apenas sabíamos que não íamos cumprir o planeado que era chegar a Pola de Lena! Com isso em mente descemos o resto do trilho até Puerto de Pajares.
Após algum tempo tínhamos finalmente chegado ao asfalto. Naquela localidade não havia albergue e tivemos que ir até Pajares 400mts de desnível mais abaixo. Tivemos que descer por estrada. Foi uma descida vertiginosa com curvas apertadas onde a velocidade alcançada era tão grande que chegava para ultrapassar os carros. Ficámos com um sorriso de orelha a orelha!
Chegámos à aldeia de Pajares e fomos procurar o albergue, graças às indicações dos habitantes locais lá encontrámos o sitio. À porta estavam outros peregrinos que nos disseram que a responsável não estava presente e que tínhamos que lhe ligar para saber se havia camas vagas. Os mesmos alertaram-nos para o facto de que ali na aldeia não havia nenhum local para jantar e que eles tinham combinado com a responsável do albergue e que ela traria jantar para eles. Nessa altura ficámos preocupados mas houve camas e jantar para todos! Após um dia muito duro nós merecíamos!
Por fim os alongamentos....
Lições aprendidas:
Podemos concluir que a distância é sempre relativa, terminámos o dia com cerca de 70kms e 1500mts de acumulado numa etapa muitíssimo dura num terreno bastante complicado com muita pedra e subidas de todo o género. Para compensar a dureza desta etapa percorremos trilhos fantásticos extremamente divertidos pudemos apreciar paisagens fantásticas e tivemos um contacto único com a natureza. Outro factor chave foi o calor, que provocava desidratação e perda de sais muito rapidamente. Foi necessário beber muita água e muitas bebidas isotónicas.
Foi um desafio gerir o esforço físico e mental!
Um conselho para quem queira fazer esta etapa, não optem pelo caminho de inverno se tiverem menos de 2h de luz.
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